MEU FILHO ENTROU NA ADOLESCÊNCIA, E AGORA?

Denomina-se adolescência o período de transição entre a infância e a idade adulta; este caracteriza-se por uma série de mudanças corporais, psicológicas e sociais.

Dá-se o nome de puberdade as mudanças do corpo.  Devido a alterações hormonais o corpo da criança começa a mudar num ritmo acelerado.  O corpo da infância era um “velho conhecido”, mas parece que “meio de repente” os membros começam a alongar-se, há crescimento de pelos, aparecem espinhas, a menarca nas meninas, a ejaculação nos meninos, etc… E com uma mente ainda na infância, o corpo vai se tornando adulto. Tornar-se adulto não é uma tarefa fácil! É um processo longo, doloroso, confuso e cheio de contradições. Durante esse período, pais e adolescentes enfrentam uma verdadeira revolução, denominada de “crise normal da adolescência”.

Os adolescentes, pelo fato de não conhecerem esse novo corpo frequentemente sentem-se desconfortáveis, desajeitados ou angustiados. Podem passar tempos diante do espelho examinando cada novo detalhe. Assim como o corpo muda, os pensamentos e os comportamentos também mudam. Enfrentam um período de dúvidas sobre si mesmo, podem ter desejo de ficar isolado, descuidos com a higiene, faltas de apetite, insônia ou excesso de sono. Esses comportamentos “diferentes “ podem ser interpretados pelos pais como preguiça e vagabundagem por parte dos filhos.

O grande objetivo da adolescência é a definição de uma identidade pessoal, ou seja, o indivíduo encontrar quem ele é, definir-se como indivíduo. O processo de individuação inicia-se na infância, mas é na adolescência que atinge seu auge. O adolescente necessita desprender-se do núcleo familiar, para aprender a usar sozinho suas capacidades. Deve ir pouco a pouco, perdendo sua condição infantil de dependência e submissão aos pais, assumindo sua identidade.

A função da família neste momento é dar apoio emocional para que o filho siga em frente, ou seja, prepará-lo para a entrada no mundo dos adultos. E para isso, faz-se necessário mudanças na estrutura familiar, o que costuma ser um grande desafio para a maioria dos pais, por mais conhecimentos que possuam. As mudanças nos filhos podem ser temidas, porque elas pressupõem mudanças nos próprios pais, que nem sempre estão dispostos a enfrentá-la.

O filho, para formar seus próprios valores, pode começar a questionar a conhecida vida familiar, os conceitos, as regras, as crenças, podendo até desprezar os conhecimentos de vida dos pais, isto porque está em busca de algo que seja realmente seu. Os pais, por sua vez, podem não aceitar as opiniões diferentes do filho adolescente, e sentem-se desrespeitados ao verem ser questionadas a visão de mundo deles. Muitos ficam assustados e tentam manter controle sobre seus filhos fazendo prevalecer suas ideias de maneira impositiva.  Transmitem a ideia de que qualquer tipo de afastamento é perigoso. Começam a criar uma série de proibições com intuito de dificultar o estabelecimento de outros vínculos fora de casa, que são vistos como ameaçadores. Tal conduta, ou ocasiona brigas e discussões constantes, ou tende a criar a dependência do filho impedindo-o de crescer.

Os pais, não tem o intuito consciente de impedir o crescimento dos filhos, mas isso pode despertar neles várias emoções nem sempre são agradáveis.  Para os pais a transição da infância para a adolescência, assinala uma perda na família: a perda da criança.   Pode aparecer nos pais sentimentos ambivalentes: ao mesmo tempo que desejam ver o filho crescido e independente, não querem perder o filho da infância. Alguns começam a sentir um vazio quando o filho passa a ter maior independência, e não os requisita mais da mesma maneira.  Entre admiração e orgulho pelo desenvolvimento do corpo do filho, suas habilidades físicas e mentais, em alguns pais pode aparecer por outro lado sentimentos de inveja e ciúmes associadas a dura realidade de estar sendo superado.  Também, ao ver o filho crescendo, com o corpo apto a procriação, muitos se deparam com a dificuldade de envelhecer. Alguns desses pais estão concomitantemente vivendo a “crise da meia idade”.

A família deve permitir gradualmente que o adolescente se desprenda, e ir dando a ele uma liberdade com limites, o que pressupõem cuidados, observação e diálogo constantes. A medida que os filhos forem amadurecendo, os pais poderem ir permitindo uma maior liberdade. Quero dizer com isso que, por exemplo, a maneira de lidar com um filho de 12 anos deve ser diferente da maneira de lidar com um filho de 22 anos. O adolescente precisa dessa liberdade gradual para “aventurar-se” fazer as coisas por si próprio, tornando-se assim mais autoconfiante e independente, e precisa para isso da permissão e encorajamento dos pais para se tornar mais responsável por si mesmo.  Não significa que devam cortar os laços que unem pais e filhos, mas reformulá-los.  Uma coisa é ser pais de crianças pequenas e outra é ser pais de filhos adolescentes ou adultos. Isso parece lógico, mas há pais tratam filhos adultos como crianças, enquanto outros deixam o filho aos seus próprios cuidados ainda muito cedo.  Vale observar que, a liberdade sem limites em filhos ainda no início da adolescência que é o mesmo que abandono.

Felizmente, a maioria das famílias, depois de um certo grau de confusão e perturbação, é capaz de mudar as normas e os limites e reorganizar-se para permitir ao adolescente uma maior autonomia e independência. Quando os pais permitem a individuação do filho, há maiores possibilidades de passar por essa fase com maior tranquilidade.

Porém, muitas famílias chegam a impasses, aparecendo sintomas no adolescente ou em outros membros da família. Aí, há necessidade de procurar ajuda.  Muitos procuram ajuda voluntariamente, e uma parte é encaminhada por escolas, médicos ou tribunais. A psicoterapia pode ser indicada para o adolescente ou para toda a família, objetivando encontrar soluções mais eficientes para lidar com as tarefas da adolescência.