Sobre o privilégio de ser mãe: minha experiência com a maternidade

Ontem à noite, logo após o jantar, quando fui verificar a agenda escolar de meu filho, me deparei com um desenho de corações e a frase: “Eu te amo, mamãe”. Ocioso dizer que eu me derreti toda.  No mesmo instante, fui à procura dele e lhe dei um imenso abraço, seguido de muitos beijos, repetindo, sem parar, o quanto também o amava. Ainda no calor da emoção, peço para que ele se sente em meu colo e pergunto sem refletir:  O que acha eu que tenho de melhor? (Imaginava que ele me apontaria alguma das minhas qualidades) Ele imediatamente me responde: “EU”.

Eu acho muita graça! Começo a rir e volto a abraçá-lo.  Claro que entendo que ele, em sua visão de criança, sente-se o centro do universo. Sei também que a descoberta de como as coisas funcionam está sendo gradual. Então explico melhor minha questão a ele, e ele aponta algumas das minhas qualidades sob a sua ótica. Dizia em palavras simples e infantis, mas com os olhos cheios de brilho, o que me fez sentir muito amada!

Como de costume, nos preparamos para dormir, conto uma história, dou um beijo de boa-noite, apago a luz do quarto dele e me dirijo ao meu com o coração repleto de alegria. Ontem eu havia tido um dia muito desafiador, mas ao me deitar percebo que ficara na minha memória aquele rostinho, aqueles olhos brilhantes que por si só já falavam.  Respiro profundamente e, ainda emocionada, penso:  E não é que ele tem toda a razão? A melhor coisa que aconteceu na minha vida foi a vinda dele. Sim! Ele fez de mim uma pessoa melhor.

Os poucos que me conhecem de perto sabem que presto atenção aos detalhes e me encanto com pequenas coisas. Mas depois da vinda dele, as coisas da vida passaram a ter um significado ainda maior, passei a sentir mais alegria nos pequenos gestos. Comecei a gostar mais da simplicidade das coisas. Passei a enxergar mais nitidamente as borboletas ou os beija-flores, as dormideiras. Passei a ser mais atenta a tudo o que me cerca.  E tudo se tornou mais intenso. Acho que me tornei um ser humano melhor, uma profissional melhor. Trabalho muito mais feliz!

É claro que na maternidade nem tudo são flores.  Foram muitas e muitas noites sem dormir, muitos dias trabalhados à base de cafés. Troquei muitas fraldas, limpei incontáveis vômitos e cheguei atrasada em muitos compromissos, porque cuidar de uma criança é ter que lidar com os imprevistos. Me senti e me sinto desafiada em muitas situações, mas sei que nunca mais serei a mesma, esse amor foi transformador!

A maternidade aconteceu tardiamente em minha vida. Quando meu filho nasceu eu já era analista, já havia atendido muitas crianças, realizado grupo com mães, orientado dezenas de pais, tinha experiência clínica. Aí nasceu aquele bebê, tão pequeno e tão frágil! Foi quando comecei a dar um outro significado a tudo o que eu havia aprendido até então.

Na primeira consulta do meu filho com uma renomada pediatra, eu estava toda perdida com aquela minha mais nova missão e ela, percebendo isso, compartilhou comigo a experiência dela.  Me disse: “Fui mãe aos 38 anos; já era pediatra há muitos anos e todas as minhas teorias vieram abaixo. ” Nunca me esqueci dessa confissão, pois me senti compreendida e acolhida pela profissional.

Sim, porque tanto ela como pediatra, como eu como analista, havíamos sido treinadas por anos para desempenharmos nossas profissões, mas não ainda para sermos mães e ser mãe é algo que se aprende com o nascimento dos filhos. São nossos filhos que nos ensinam, são eles que despertam a mãe que existe em uma mulher.

 Meu relacionamento com minha mãe, que sempre foi muito bom, também foi ressignificado. As falhas que um dia eu com filha apontei em minha mãe foram compreendidas de outra maneira e hoje eu a agradeço por tudo o que fez por mim.

Hoje, quando recebo em meu consultório uma mãe (e é bom lembrar que muitas me buscam no auge do desespero), consigo compreender a dor e o sofrimento de outra maneira. Posso acolhê-las por compreender as dores, as alegrias, o sentimento de impotência, enfim, que nós, mães, sentimos. Todas nós, mães, independente de nossas profissões, vez ou outra nos sentimos angustiadas com os desafios da maternidade. Hoje sei que há momentos em que não há nada a ser feito a não ser estar ao lado de nossos filhos, pois não temos como livrá-los do que eles têm que passar na vida deles.  Podemos, sim, dizer aos nossos filhos: “Estou aqui do seu lado, não consigo te livrar do que está destinado a você, mas pode contar sempre comigo! ”

Eu, como a maioria das mães que trabalham fora de casa, não tenho o mesmo tempo de antes. Como nosso tempo se torna restrito, faz-se necessário aprender a priorizar, a focar no que realmente importa.  Fui aprendendo a me dividir nos inúmeros papéis em que nós, mães, temos que nos dividir. Continuo estudando e crescendo profissionalmente, talvez não na velocidade que eu sonhara antes, mas numa profundidade que jamais pudera imaginar antes dessa experiência.

Estou compartilhando com vocês essa minha experiência, que é absolutamente singular! Eu sempre desejei ser mãe e hoje agradeço a Deus todos os dias por estar vivendo essa experiência e por provar esse amor. Para mim este é um amor muito, mas muito diferente de qualquer outro. É um amor que não espera nada em troca. A gente simplesmente ama, deseja o bem, quer ver o filho feliz e faz o que pode para isso. Isso inclui falar muitos “nãos” para ajudá-los a pensar o que é certo. Inclui ensinar ética, ter educação. Nossa missão como mãe é ensiná-los a viver. É conversar sobre o mundo e prepará-los gradualmente para enfrentar a vida. 

Outro dia me perguntaram: você acha que toda mulher deveria ser mãe? Eu respondi negativamente, alegando que, do meu ponto de vista, as mulheres são livres para viver as experiências que elas desejarem viver e só deve ser mãe aquela mulher que realmente quiser ser mãe e que estiver aberta a viver essa experiência.  A meu ver a, experiência de acompanhar um ser humano em seu desenvolvimento deve ser especial e única, já que é a prova de uma entrega total.

Hoje, DIA DAS MÃES, quero homenagear a todas as mulheres que aceitaram o desafio da maternidade e que dedicam sua vida para criar seus filhos. Mulheres guerreiras que aprenderam a ser malabaristas para se equilibrar em inúmeros papéis que estão destinados a ela. Um beijo no coração de cada uma de vocês.

 

Homenagem à minha mãe

Gostaria de homenagear minha mãe que acumula os papéis de mãe e de melhor amiga. Ela sempre ouviu meus questionamentos em silêncio. Eu não entendia porque ela não falava,  e me lembro de que ficava brava com ela por isso. Hoje eu entendo que ela não tinha o que dizer. Não tinha respostas aos meus questionamentos. Então, o que podia fazer era oferecer seu ombro e ficar todo o tempo ao meu lado. E assim o fez, sempre! Nos momentos mais difíceis da minha vida, ela estava lá, ao meu lado. E assim eu tenho feito com meu filho, porque aprendi com ela. Eu não o livro das coisas que ele tem que passar na vida dele, mas sempre lhe digo: Aconteça o que acontecer, você pode contar comigo. Aqui estarei para ser a sua âncora, a fixá-lo na segurança do chão e a sua catapulta para lançá-lo longe, lá perto dos seus sonhos.